A característica mais marcante da chikungunya são as fortes dores nas articulações, que podem persistir por muito tempo depois da fase aguda da infecção. Lesões vasculares, inchaço, perda de sensibilidade e até queda de cabelo são sequelas que já foram identificadas na fase crônica da doença. Agora, pesquisadores brasileiros estão monitorando as complicações oculares que o vírus transmitido pelo Aedes aegypti pode desencadear.
Resultados preliminares de um estudo conduzido na Bahia, indicam que mais da metade dos pacientes com chikungunya avaliados apresentam alterações oculares que levaram, em alguns casos, à perda parcial ou total da visão de forma irreversível. Os dados foram apresentados em fevereiro no 40º Simpósio Internacional de Oftalmologia Moacyr Álvaro (Simasp), em São Paulo.
A literatura médica já apontava para a possibilidade de a chikungunya afetar a saúde ocular. Um artigo de 2007 publicado na revista “Clinical Sciences” descreveu casos de neurite óptica, um tipo de inflamação do nervo óptico, em pacientes infectados pelo vírus na Índia. Mas o número elevado de casos registrados no Nordeste do Brasil permitiu fortalecer as evidências dessa associação.
Feira de Santana foi uma das primeiras cidades brasileiras a registrar casos de chikungunya em 2014. Uma iniciativa da Fiocruz e da UEFS passou a acompanhar pacientes com chikungunya na cidade para verificar os efeitos de longo prazo da doença. A equipe de Hermelino passou a fazer exames oftalmológicos nos pacientes que já eram acompanhados pelo projeto.
O atendimento oftalmológico se dá uma vez por mês e começou em novembro. Até o momento, foram avaliados 87 olhos de 44 pacientes com exames positivos para chikungunya.
Do total de pacientes avaliados, 75% relatou queixas oculares, desde as mais simples até as mais intensas, e 54% apresentou lesão nos olhos. Em 5% dos pacientes, foi detectada uma lesão importante na retina e no nervo ótico que levou a uma baixa de visão severa e irreversível.
É importante termos o conhecimento de que essa doença cega. Os resultados reforçam a importância de se prevenir a proliferação da doença e de estudar novas formas de intervenção que possam diminuir os riscos de complicação na fase aguda da doença.
Até o momento, ainda não está claro como o vírus atua para afetar a visão. Existe uma suspeita de que o vírus agrida os olhos diretamente. Outra suspeita é que se trata de um fenômeno autoimune: que os anticorpos produzidos para combater o vírus levariam a um processo inflamatório intenso que afetaria os olhos.
Fonte: http://g1.globo.com