Lentes Intraoculares e a Cirurgia de Catarata

A cirurgia de catarata ainda é o único tratamento disponível para reestabelecimento da visão prejudicada pela doença. É procedimento mais realizado no mundo de acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, com 19 milhões de procedimentos realizados anualmente e com estimativa de chegarmos a 32 milhões de procedimentos em 2020. No entanto, por mais moderno e reprodutível que o procedimento tenha se tornado, ainda se faz necessário o implante de uma lente intraocular, prótese transparente que substituirá o cristalino degenerado pela catarata. 
A lente intraocular evoluiu muito a longo dos anos e assim vários materiais, desenhos e tratamentos ópticos surgiram para proporcionar o melhor resultado óptico possível dentro do potencial individual de cada paciente para a recuperação. Atualmente as diversas opções permitem personalizar o tratamento do paciente.
Quanto ao material, costuma ser de polimetilmetacrilato (PMMA), silicone ou então de acrílico, este último podendo ser hidrofílico ou hidrofóbico, dependendo do modo que o material interage com a água. Ainda, o uso do silicone e do acrílico permitiu o surgimento de lentes dobráveis, artifício que tornou o cirurgião capaz de implantar lentes através de incisões menores, gerando assim menor agressão cirúrgica e melhor recuperação pós-operatória. 
As lentes intraoculares possuem desenhos diversos, no entanto, todas são compostas de uma zona óptica, parte funcional da lente, e seus hápticos, alças responsáveis pelo bom posicionamento e centralização da lente dentro do olho. Se os hápticos e zona óptica forem do mesmo material, são chamadas lentes de peça única e, se forem de material diferente, são tidas como lentes de três peças. Algumas lentes possuem desenho de bordos e hápticos diferenciados, proporcionando melhor centralização além de menor migração celular capsular e opacidade capsular, o que significa em termos práticos mais tempo sem a necessidade de se realizar a chamada capsulotomia posterior (popularmente conhecida como “limpeza da lente”).
Talvez o ponto mais importante acerca das lentes intraoculares seja o tratamento óptico. Além da necessidade básica de possuir filtros protetores contra os raios ultravioletas, nocivos para a retina, o tratamento óptico vai diferenciá-las quanto a asfericidade (esférica ou asférica) e quanto a multifocalidade (monofocal ou multifocal), ou então quanto a toricidade (lente tórica ou não-tórica). Lentes de alta tecnologia são capazes de combinar as diferentes características acima e promover um melhor resultado visual.
A córnea humana, ao envelhecer, gera mais aberrações ópticas denominadas de alta ordem esféricas positivas. As lentes asféricas possuem um tratamento óptico capaz de reduzir estas aberrações.
O cristalino natural é capaz de gerar multifocalidade, porém começa a perdê-la progressivamente em torno dos 40 anos de idade (presbiopia), perdendo por completo aos 60 anos. A maior parte das lentes intraoculares implantadas no mundo são monofocais, o que significa apenas um foco da imagem projetada na retina que pode ser planejado, quase sempre objetivando a visão para longe, necessitando de correção (óculos ou lente de contato) para leitura. As lentes intraoculares multifocais produzem mais de um foco de visão, gerando imagens simultâneas (perto e longe) e aumentando a chance de haver independência dos óculos. Contudo, apesar da alta tecnologia empregada neste desenho óptico, alguns pacientes podem experimentar fenômenos visuais, como halos e ofuscamento ou mesmo dificuldade para a visão de distância intermediária. Atualmente, novos designs de lentes estão surgindo no mercado, como lentes trifocais ou mesmo lentes de foco estendido, com a proposta de reduzir esses fenômenos.
Por último, já é sabido que boa parte dos indivíduos possuem algum grau de astigmatismo corneano (toricidade). Diferente da dificuldade em se enxergar para perto ou longe, o astigmatismo gera distorção na imagem. Dependendo da intensidade e regularidade, o astigmatismo pode reduzido com o implante da lente intraocular tórica, independente da monofocalidade ou multifocalidade. 
Ainda contamos com as lentes intraoculares ditas suplementares. São lentes desenhadas para complementar o resultado final refracional da cirurgia de catarata em casos selecionados, implantadas junto com a lente principal (procedimento chamado duet) ou mesmo anos após a cirurgia de catarata, podendo ser explantadas com mais facilidade que o usual ganhando o apelo da reversibilidade.
A tecnologia no desenvolvimento de lentes intraoculares evolui a todo vapor e no futuro com o advento da nanotecnologia estaremos diante de próteses inteligentes e cada vez mais próximas da qualidade de um cristalino natural, ou quem sabe além disso. Porém, o mais importante é realizar consultas com o seu médico oftalmologista de rotina. Somente ele será capaz de indicar o melhor implante intraocular para cada caso e assim personalizar o tratamento.
Dr. Mário Augusto P. D. Chaves
Médico Oftalmologista, Cataratólogo
- HOSPITAL VISÃO - HV - João Pessoa
Corpo Clínico Departamento de Catarata 
- HOSPITAL OFTALMOLÓGICO DE BRASÍLIA - HOB - Brasília
Preceptor e Médico pesquisador do Departamento de Catarata
- FUNDAÇÃO ALTINO VENTURA - FAV - Recife
Preceptor da Disciplina de Catarata